quinta-feira, 6 de agosto de 2009

AS TESES DA VERGONHA


Pois é, parece que hoje em dia ter um Mestrado ou um Doutoramento não significa esforço, dedicação e sabedoria. Não significa ser o melhor, mas sim ser o mais esperto ou ser o que tem mais dinheiro que pode gastar para lhe fazer uma tese completa. Ao que isto chegou. Já nem na área académica temos verdade e conhecimento. Muito do conhecimento que se faz por esse país fora saí das mentes de dois ou três, mas são dezenas aqueles que ficam com os louros e com os títulos.

A notícia que saiu no Expresso da semana passada deixou-me muito triste, pois esta situação só revela a fraqueza dos portugueses e o facilitismo que impera por aí fora. Não posso dizer que fui apanhado de surpresa, porque eu próprio já fiz um pequeno trabalho de investigação com necessidade de tratamento estatístico dos dados e sei de muitos colegas que pagaram algumas dezenas de euros só para lhes efectuarem essa análise estatística. Agora pagar a alguém para fazer uma tese inteira, isso não me cabe na cabeça. É óbvio que nem todos nós somos barras a estatística e muitas vezes os programas a utilizar nestas situações são muitos específicos, pelo que compreendo que se pague a um profissional da área para se obter alguma ajuda com a parte estatística, agora com a parte da discussão e conclusão, ou com a fundamentação teórica do trabalho isso é impensável.

A parte fulcral de uma tese de doutoramento e de mestrado é a sua análise, e a pesquisa que esteve por detrás da tese, as conclusões que se podem tirar e a discussão que se faz, sendo que todo esse trabalho deve ser do investigador, deve ser da pessoa que deu muito do seu tempo para conseguir construir aquele trabalho. Não vale pedir a outros para fazerem esse trabalho, uma vez que é isso que vai diferenciar aquela tese, que vai transmitir o cunho do investigador e as suas vivências. Se a compra acontece aquela tese não é verdadeira, já que não tem nada a ver com aquela pessoa que diz que a construiu. Essa pessoa apenas lhe dá o nome, uma vez que o tronco da tese não foi feito por si.

Penso que o que se passa em Portugal é que todos os licenciados querem ser mestres ou doutores não porque têm conhecimento para isso ou vontade, mas sim porque socialmente é bonito ou porque é um escape face ao desgosto em relação às suas profissões. Cada vez mais se vêm mais pessoas de uma determinada área a tirarem mestrados e doutoramentos em áreas diametralmente opostas às da sua formação base e não fazem por gostarem dessa nova área, mas sim porque querem ser mestres e doutores a todo o custo.

Não é nestes pressupostos que assenta a formação académica. Nem todos os licenciados têm de ser mestres e doutores, e as pessoas que não conseguem chegar a esta fase não se devem sentir diminuídas porque o importante é ser bom e competente naquilo que se faz diariamente, pois isso sim nos caracteriza e nos diferencia dos outros. De que me vale tirar um mestrado numa universidade ou instituto da treta que só quer o dinheiro das minhas propinas, que não se preocupa nada com a qualidade das teses e da investigação que se faz. Para mim isto não vale nada, mas para muitos vale e desta forma as pessoas continuam a enganar-se a elas próprias e a enganar os outros.

Infelizmente a nossa sociedade está assim e o status social é mais importante do que a dignidade e enquanto houver poder de compra, pelo menos para alguns, de certeza que este negócio das teses de doutoramento e de mestrado vai continuar a proliferar imperando a mentira no mundo académico, sendo que aqueles que o fazem com o seu esforço e suor acabam por ser comparados com os cábulas que o fazem através da mentira.

Sem comentários: