PRAXES ACADÉMICAS

Com o inicio de mais um ano lectivo muito se fala das praxes académicas e do facto de algumas delas serem um pouco duras, descaracterizando todo o espírito académico. Posso considerar-me um profundo conhecedor do mundo do ensino superior, pois em 2001 iniciei a minha caminhada por lá, parei uma ano e em 2006 retornei para mais um período de 5 anos, o qual já vai mais ou menos a meio.

Desde a minha primeira passagem pelo ensino superior, e convém dizer que falo sempre em Coimbra, noto bastantes diferenças. Nestes últimos anos tem ocorrido uma verdadeira revolução nas mentalidades académicas. Eu não sou a favor da praxe dura ou humilhante, mas sim das boas tradições académicas. Nota-se que cada vez mais os estudantes não aderem às iniciativas académicas e que nem à vida nocturna e de diversão prestam grande atenção. Para muitos estudantes a semana começa à segunda-feira após o almoço e muitas vezes às quintas-feiras regressam logo às suas casas que são um pouco por todo o país.

Este aspecto constitui uma grande revolução, sendo que aos fins-de-semana são poucos os estudantes que ficam por Coimbra a cimentar o espírito de união e de companheirismo que caracterizam a boa vida académica. Na minha primeira passagem pelo ensino superior era comum os estudantes irem a casa apenas de 15 em 15 dias ou iam só ao sábado, aproveitando a noite de sexta para uma saída sem a pressão das aulas no dia seguinte. Actualmente isto não se verifica e é óbvio que tais mentalidades fazem mudar todo o espírito académico, sendo que a praxe também sofre com isto, como sofrem as tunas académicas, os grupos desportivos, os grupos de danças, as tertúlias universitárias, os jornais, enfim tudo o que tem a ver com a academia acaba por sofrer com este desinteresse pela vida Coimbrã, que está profundamente relacionada com a academia.

Quem ingressa no ensino superior tem durante o seu curso um período de excelências para fazer amizades, que devem ser de todos as crenças e credos, ou seja, devemos interagir com estudantes de outros cursos, sendo essa interacção essencial para a aquisição de conhecimentos e amizades que nos poderão marcar toda uma vida. E não pensem que é só indo às aulas que se conhecem pessoas e fazem amigos. Para as verdadeiras amizades é necessário o convívio, as jantaradas, as noitadas, as tertúlias, pois de outro modo esses relacionamentos não passarão de falso companheirismo, de meros colegas de aulas e não amigos para a vida.

Mas voltando à praxe, esta está cada vez mais a ser esquecida e tirando a primeira semana de aulas, em que se vê algum interesse em estar com os caloiros e de lhes dar a conhecer Coimbra, a partir daí as pessoas começam a entrar nas suas rotinas e a praxe é esquecida. Eu sou a favor de uma boa praxe, que se prolongue até à Latada com uma boa intensidade e que a partir daí vá marcando a sua presença pontualmente para que os caloiros saibam que não foram esquecidos. E quando falo de praxe falo de integração, pois para mim este é um período de integração dos novos estudantes na vida de Coimbra. A praxe é dar-lhes a conhecer a cidade, as suas tradições, os seus pontos de interesse, a sua vida nocturna, os serviços que podem ser úteis aos estudantes, e muito importante para que os caloiros se conheçam uns aos outros e comecem a relacionar-se entre eles e a apoiarem-se. O apoio entre os estudantes é fundamental para a adaptação a esta nova vida e a uma nova cidade.

Mas o que acontece muitas vezes é que confundem o espírito da praxe e em vez de integrarem estão a segregar, estão a humilhar, estão a envergonhar e é óbvio que assim ninguém gosta da praxe, pois ninguém gosta de ser humilhado por outros colegas estudantes. Os novos estudantes chegam muitas vezes com ideias pré-definidas acerca da praxe e na sua maioria essas ideias não são nada abonatórias a seu favor, pelo que é importante desmistificar desde o inicio o que é a praxe e pede-se aos praxantes para que não abusam e que pensem sempre se estariam dispostos a fazer uma determinada coisa, pois nunca devemos fazer aos outros aquilo que não gostaríamos de fazer e mesmo que outros nos tenham feito essa praxe, se nós acharmos que ela não é boa não a devemos repetir como forma de vingança. A praxe não é vingança, até porque muitos dos que foram praxados acabam por nem querer praxar.

Faz-se um apelo para que esta época bonita de inicio de ano decorra sem incidentes e que todos os novos estudantes sejam bem integrados, sendo esse o aspecto essencial. Há que integrar bem os caloiros, dar-lhes a conhecer o bom e o mau da cidade, para que eles no futuro possam tomar as decisões e escolherem os seus caminhos. Vamos deixar-nos de humilhações e de praxes violentas. Vamos apostar nos cânticos, nas acções de rua pela cidade, nas danças engraçadas, no humor, no sarcasmo, na sátira política, entre outros aspectos. Temos tanta coisa engraçada para fazer com os caloiros que é difícil estar a enumerar. O que é importante é conviver de uma forma saudável onde ninguém se magoe e todos fiquem satisfeitos por estarem a conhecer novas pessoas, que poderão ser os novos amigos.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Praxe
http://pwp.netcabo.pt/qvidpraxis/codigo.html
http://praxenao.no.sapo.pt/
http://www.regiaocentro.net/lugares/coimbra/praxe/default.asp
http://diario.iol.pt/sociedade/ensino-superior-estudantes-praxes-praxe-universidade/991401-4071.html
http://www.aeportucalense.org/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=131&Itemid=84
http://www.aeesac.com/index.php?option=com_content&view=article&id=89&Itemid=77
http://mindmakers.wordpress.com/2008/09/23/sobre-praxe/
http://www.petitiononline.com/praxe/petition.html