Esta é uma questão que nos últimos tempos tem suscitado alguma discussão, sobretudo por parte dos enfermeiros que dizem ser absolutamente contra este tipo de medidas. Antes de mais comentários eu pergunto aos enfermeiros se também são contra ao facto de enfermeiros exercerem o papel de fisioterapeutas em muitas clínicas de fisioterapia ou clubes de futebol, sendo que estou a falar de enfermeiros sem a especialização em reabilitação. Se estão a favor que enfermeiros façam electrocardiogramas passando por cima dos cardiopneumologistas, que os enfermeiros façam exames audiológicos e de optometria, passando por cima de audiologistas e de optometristas?
Eu penso que antes de começarmos a tecer duras críticas devemos todos pensar nestas situações, que de certeza não estão muito correctas mas que acontecem no dia-a-dia um pouco por todo o país. Da mesma forma que se questiona a capacidade e a formação de um farmacêutico para administrar vacinas, também podemos questionar a capacidade de um enfermeiro para realizar esse tipo de exames, pois sabemos bem que durante o curso de enfermagem esses temas nas são leccionados, logo as aptidões conferidas pela licenciatura não são nenhumas nessas situações, mas no entanto não vejo ninguém a revoltar-se por estas situações acontecerem.
Com estes parágrafos iniciais não quero passar a ideia de que sou 100% de acordo com as vacinas nas farmácias, mas não me causa nenhuma estranheza que se queira fazer isso, nem me cabe a mim julgar as pessoas que o querem fazer, dado que colegas meus também exercem uma série de funções sem terem competências para tal e que foi através do trabalho e do empirismo que na maioria dos casos adquiriram os conhecimentos nessas áreas.
A meu ver as vacinas nas farmácias não vêm retirar trabalho aos enfermeiros, nem vem constituir a perda das suas competências, Penso até que poderá vir a aliviar os centros de saúde que em certas alturas registam um afluxo muito grande de doentes para este tipo de actos, que se forem realizados noutros locais poupa tempo para outras tarefas. A questão essencial é a formação que os farmacêuticos deverão ter. É aí que está a fonte de discussão, pois tem de se garantir uma formação adequada que tem de passar pela teoria e pela prática. Conhecimentos ao nível da anatomia e da farmacologia existem e são muito bons, logo para mim a formação tem de passar sobretudo pela prática e os farmacêuticos devem passar alguns dias nos centros de saúde em unidades de vacinação, de forma a adquirem as competências técnicas adequadas a desempenharem a tarefa sozinhos na sua farmácia. Quanto mais vezes praticarem sob a supervisão de alguém experiente menos será o risco de errarem, pois temos de ter em conta que no caso das vacinas o farmacêutico está sozinho no seu local de trabalho não tendo alguém com mais experiência na área a quem recorrer em caso de dúvida e isso é a minha grande preocupação. Enquanto que um enfermeiro num centro de saúde tem, ou quase sempre alguém mais experiente a quem recorrer numa farmácia isso não acontece, mas penso que com uma adequada formação prática esse problema poderá ficar resolvido.
Outra questão que podem levantar é o facto da ocorrência de reacções anafiláticas, mas este tipo de reacções podem ocorrer em qualquer local, sendo o procedimento nestas situações idêntico em todos os locais. Desde que existam nas farmácias condições para acorrer a este tipo de situações não há problema nenhum e quando falo de condições falo de uma sala com uma cama em que a pessoa se possa deitar em caso de necessidade e da existência de fármacos de emergência como é o caso de adrenalina para se ocorrer alguma reacção. Aqui surge a questão de estar presente algum médico, mas sabemos bem que muitas vezes nos postos de saúde ou noutros locais onde ao enfermeiros administram vacinas não se encontra presente nenhum médico, logo não vejo nenhum problema numa situação destas. Se ocorre a reacção devemos administrar o fármaco que está protocolado e encaminhar a pessoa para um médico se for necessário, nomeadamente recorrendo ao INEM, mas não é pelo facto de estarmos numa farmácia ou num hospital que o atendimento é diferentes, dado que se existirem os fármacos que estão protocolados o atendimento é o mesmo. Há que saber o que se deve fazer e o que se deve administrar e nesse aspecto os farmacêuticos têm toda a formação para poderem proceder a essa administração, já que de fármacos sabem eles e isso não podemos questionar. Quem melhor que um farmacêutico pode saber acerca dos usos de um fármaco, da sua farmacocinética, dos seus efeitos secundários? Ninguém, nem mesmo um médico.
A este respeito a ordem dos enfermeiros fez um comunicado em que aborda esta temática e que eu vou comentar. No comunicado surge inicialmente a noção de que na formação dos farmacêuticos para esta tarefa devem estar presentes enfermeiros. Sou totalmente de acordo e penso que para além de uma formação teórica que não terá de ser muito alargada, devemos apostar numa formação prática e ai sim o papel dos enfermeiros é primordial, sendo que os farmacêuticos deverão acompanhar um enfermeiro durante alguns dias para que possam ver administrar vacinas e para que o possam fazer sozinhos sob supervisão em pessoas, já que é muito diferente praticar numa pessoa do que praticar num manequim, como acontece durante a formação teórica e muitas vezes muitos alunos de enfermagem acabam por entrar no mercado de trabalho sem nunca terem administrado um injectável a uma pessoa e isso não pode acontecer com os farmacêuticos, nem deveria acontecer com os enfermeiros, mas isso é uma questão para abordar de uma próxima vez.
Segundo a ordem devem ser salvaguardadas a qualidade e a segurança na prestação dos referidos cuidados e eu penso que independentemente dos profissionais que os executam esses aspectos serão salvaguardados, já que com a adequada formação não deve haver motivos para preocupação e já que a ordem se preocupa tanto com a qualidade e segurança dos cuidados deveria olhar um pouco mais para algumas condições de trabalho que se verificam na enfermagem, ou melhor para a falta delas e se calhar deveria tomar uma posição em relação ao facto de vários enfermeiros de um Hospital de Coimbra estarem a fazer a profilaxia para a tuberculose. Em vez de se preocupar em demasia com as vacinas deveria preocupar-se com os riscos a que os seus membros estão expostos e aos quais parece que ninguém dá importância e valor. Isso sim deveria ser um grande cavalo de batalha para a ordem.
Para finalizar a Ordem diz que as “intervenções que impliquem a administração de injectáveis nas farmácias devem ser realizadas por enfermeiros”, o que não me parece que tenha de ser assim. Sinceramente não vejo problema no facto de outra pessoa administrar vacinas, desde que tenha formação nessa área e todos sabemos muito bem que muitas pessoas administram hoje em dia injectáveis sem serem enfermeiros e até hoje nunca ninguém se queixou por maus serviços. Parece-me sim que poderá estar aqui a tentar encontrar-se forma de colocar alguns dos enfermeiros desempregados, apelando e defendendo que as farmácias devem ter enfermeiros a administrar as vacinas. Mais uma vez penso que este não é o caminho e que a ordem deve trabalhar com o governo alterações de fundo no ensino da enfermagem, de forma a reduzir o número de vagas nas escolas de enfermagem, para tentarem reduzir o número de enfermeiros desempregados, que neste momento já é muito elevado e que não pára de crescer.
Dizem também “que a prática destas intervenções por outros que não enfermeiros serão consideradas invasão na área de actividades praticadas pelos enfermeiros” e então onde está a ordem a penalizar os enfermeiros que executam as funções de outros profissionais. Não fica muito bem para a ordem falar em invasão, quando os seus membros executam diariamente diversas funções que pertencem à esfera de outros profissionais, invadindo e apoderando-se das suas funções. Onde está a ordem a penalizar esses enfermeiros e a lutar contra esses factos. Nunca vi nenhuma posição, logo este é um falso argumento.
E agora mesmo para finalizar fica muito mal apelar para que os enfermeiros não colaborem na formação dos farmacêuticos, sendo que estes deveriam ser os primeiros a exigir a sua participação nessa formação e assegurar que ela se desenrola da melhor maneira. Os enfermeiros devem repensar muito melhor as suas áreas de luta já que me parece que estão a canalizar as suas atenções para um problema menor, já que as questões de fundo da enfermagem continuam por resolver e ninguém parece ter vontade em dar um novo rumo e uma nova imagem à enfermagem.
http://www.ordemenfermeiros.pt/images/contents/uploaded/File/sededestaques/Setembro%202008/Microsoft_Word_-_Orienta____es_relativas____administra____o_de_vacinas_e_inject__veis_nas_farm__cias.pdf
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1008688
http://sic.aeiou.pt/online/noticias/vida/Vacinas+nas+farmacias+a+partir+de+Outubro.htm
http://www1.netfarma.pt/index.php?option=com_fireboard&Itemid=27&func=view&id=32&catid=7
http://souenfermeiro.blogspot.com/2007/04/enfermeiros-e-mdicos-esto-contra.html
http://www.srsdocs.com/parcerias/revista_imprensa/jornal_madeira/2007/jm_2007_04_05_02_k.htm
http://www.anf.pt/site/index.php
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