Pois é, hoje o expresso diz na sua edição online que existem médicos que conseguem ganhar 2500 euros num só dia de trabalho. Pois eu digo mais e não são só os pediatras ou anestesiologistas que conseguem atingir esses valores. Posso dar um exemplo de um médico espanhol que eu conheci quando trabalhei num hospital alentejano e esse senhor vinha a Portugal todos os fins-de-semana fazer 24 horas numa urgência como médico de Medicina Interna e ele um dia disse-me que os 4 dias por mês que vinha a Portugal davam para ganhar quase 3 vezes mais daquilo que ele ganhava em Espanha. Ele nesses 4 dias obtinha um rendimento líquido um pouco superior a 5000 euros mensais, enquanto que em Espanha não ultrapassava os 2500 e era director de um centro de saúde.
Estes números são imorais quando comparados com outros elementos do sistema de saúde, que trabalham muito e não recebem nem um décimo daquilo que estes médicos recebem. Será isto justo e necessário? Bem, justo não é de certeza, mas isso é uma questão muito antiga e é difícil fazer ver aos nossos governantes que os médicos não devem ganhar assim tanto num hospital público. É difícil não ceder às pressões desta classe, já que uma greve deles pára tudo e são milhares de consultas que ficam adiadas, milhares de cirurgias que não se fazem e quando eles querem param mesmo dois ou três dias seguidos sem qualquer preocupação com os doentes que ficam por atender. Parece que impera o poder do euro, a questão monetária? Mas não diziam que quem ia para medicina o fazia por vocação, porque gostava de ajudar os outros? Não me parece e o que se vê cada vez mais é que as pessoas só pensam em cifrões e só se preocupam em ganhar cada vez mais, independentemente da qualidade dos seus cuidados.
De uma coisa penso que ninguém tem dúvidas, é que neste momento no nosso país ainda existe uma falta de médicos, sobretudo nas zonas interiores do país, porque em muitos hospitais litorais isso parece não acontecer e por exemplo se nos deslocarmos ao Bar da instituição a meio da manhã verificamos que por lá se encontram dezenas de médicos a tomar o seu café descontraidamente e se for preciso ficam por lá dezenas de minutos sem qualquer problema, logo deduzo que não terão assim tanto para fazer ou melhor ainda, que se quisessem poderiam facilmente optimizar o seu trabalho sem muito esforço e em vez de 10 consultas poderiam fazer 12 ou 13 sem que para isso necessitassem de fazer horas extraordinárias, mas isto ninguém parece querer ver, ou até vêem e fecham os olhos, dado o poder que a classe tem na nossa sociedade.
Mas como estava eu a dizer, o número de médicos não é ainda o aceitável, mas penso que se o nosso governo prosseguir com a política de abertura de novos cursos de Medicina que a situação se poderá inverter em cerca de 10 anos. Mas o que me dá a entender é que a vontade de novas aberturas está a cessar, sobretudo por muitas pressões da classe médica, é que mais médicos significará num futuro ainda longínquo menos horas extraordinárias e isso é mau, porque se traduz em menos dinheiro que se ganha. Eu fico um pouco triste por ver que pessoas que conseguem ter rendimentos líquidos superiores a 5000 euros só a trabalharem no público quererem ganhar mais a todo o custo e por outro lado temos notícias que nos dizem que muitos milhares de portugueses têm de sobreviver apenas com 300 euros mensais e que a maioria da população não ganha mais do que o ordenado mínimo. Não estaremos a ser um pouco materialistas de mais? Não deveríamos dar algo mais a quem nos formou e para isso gastou milhares de euros?
Eu pendo que sim, acho que os nossos médicos ganham muito bem e apesar de haver lacunas em determinadas áreas não se tolera que num serviço de urgência alguém possa ganhar 2500 euros num só dia. É que esta questão traz-me outra dúvida, que é o facto de alguém conseguir trabalhar 24 horas seguidas? Será isto humanamente possível? Deverá isto ser permitido? Tenho a certeza que ninguém consegue trabalhar 24 horas seguidas com um desempenho aceitável, sobretudo quando estamos a falar de médicos que tratam pessoas e que por isso devem estar com as suas capacidades a 100%. Não é humanamente possível trabalhar 24 horas seguidas e ter um desempenho igual na segunda e na vigésima quarta hora, mas as pessoas continuam a apostar neste tipo de serviços porque esses é que dão dinheiro e como só o dinheiro interessa… E por último, claro que não deveria ser permitido alguém trabalhar 24 horas seguidas e dou o exemplo da classe profissional dos enfermeiros que não podem trabalhar mais do que 8 horas seguidas. Então mas como é que numa classe inferior, que não tem as responsabilidades dos médicos, que tem um papel secundário nos cuidados de saúde e cujos cuidados passam muito bem sem eles não se podem fazer mais de 8 horas seguidas e os médicos podem. Não consigo perceber isso, mas se calhar os enfermeiros são muito mais importantes do que muitos pensam e provavelmente eles estão nos hospitais 8 horas a 100% para colmatar as horas que outros só estão a 30 ou 40%.
A questão que se levanta e que toda a gente que trabalha na saúde sabe muito bem é que um médico que está a trabalhar 24 horas tem períodos em que está a descansar as “pestanas”. Penso que isto é óbvio e só não vê quem não quer, pois não é possível alguém aguentar 24 horas a trabalhar sem descansar algumas horas as “pestanas”. Não me importo nada que eles descansem, mas nesses períodos de descanso não deveriam estar a ganhar o mesmo valor à hora, pois isso é extremamente injusto e desigual. Devem sim em vez de turnos de 24 horas fazerem turnos de 12 e assim nessas 12 horas podem trabalhar a 100%.
Estas questões são bastante profundas, custa a admitir determinadas coisas, mas temos de ser directos e temos de repensar os valores que são pagos a estes médicos que fazem urgências através de empresas prestadoras de cuidados. Os valores da hora têm de ser reduzidos para valores normais tendo em conta a realidade do país. É impensável que alguém ganhe num dia o que muitos demoram quase um ano a ganhar ou que um médico ganhe tanto como um seu colega por mês, sim porque muitos em inicio de carreira nem chegam bem aos 2500 líquidos, o que é excelente, mas pouco comparada com a maioria. Dá que pensar não dá?
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/401238
http://diario.iol.pt/politica/saude-ana-jorge-urgencias-medicos/988607-4072.html
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1010264
http://www.oportalsaude.com/default.asp
http://www.dgs.pt/
http://www.acss.min-saude.pt/
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