terça-feira, 28 de julho de 2009

ALTERAÇÕES VISUAIS


Nos últimos tempos muito se tem falado acerca dos casos de cegueira do Hospital Santa Maria alegadamente provocados pela injecção do medicamento “Bevacizumab”, comercializado pela farmacêutica Suíça Roche sob o nome de Avastin®.

Em primeiro lugar importa referir que esse fármaco é utilizado em todo o mundo em patologias oculares com bons resultados, embora nunca tenha sido aprovado o seu uso para essa patologia, ou seja, toda a responsabilidade da sua utilização recaí sobre os médicos que o preferem. Convém relembrar que para um determinado fármaco poder ser utilizado numa determinada patologia tem de ser aprovado pelas autoridades competentes para tal e para isso necessita de uma série de ensaios clínicos que comprovem a sua eficácia e segurança no tratamento dessa patologia, sendo que a Roche nunca procurou fazer isso para os problemas oculares. O fármaco apenas é utilizado para problemas oncológicos.

Mas de uma coisa podemos ter a certeza, por ano os oftalmologistas usam milhares de doses deste fármaco em todo o mundo e nunca surgiram problemas, nem nunca a Roche se preocupou que o fizesse, pois estava a entrar dinheiro para os seus cofres. Tudo mudou em Fevereiro quando a empresa enviou uma circular em que se descartava da utilização do produto para uso ocular. Como que por artes mágicas isto aconteceu pouco tempo antes de a empresa fechar o negócio de aquisição de uma empresa de biotecnologia chamada Genentech, que por acaso tinha aprovado um medicamento com a mesma finalidade mas muito mais caro. Parece estranha esta posição da Roche, mas se podemos ganhar mais uns trocos é preferível e diga-se de passagem eles também nunca fizeram força para que o Avastin® fosse aprovado com essa finalidade, logo a sua posição é aceitável.

Como referi anteriormente a responsabilidade da administração do fármaco é do médico e todos os possíveis efeitos adversos devem ser comunicados aos doentes antes da administração. Se o médico achou que aquele fármaco era o melhor para o seu doente, juntamente com o doente assumiu o seu possível sucesso ou insucesso, sendo que de acordo com os dados existentes na comunidade médica de oftalmologia as probabilidades de sucesso são muito elevadas.

Surge agora a questão de poder haver algum problema com o lote do fármaco ou com as condições de assepsia durante o procedimento. Em relação ao lote é difícil que exista algum problema, uma vez que desse lote já foram utilizadas diversas embalagens e já foram efectuados diversos testes. Poderá sim ter havido algum problema com a ampola utilizada. Se o fármaco estava dentro do prazo de validade, se tinha sido armazenado nas condições estipuladas o laboratório tem responsabilidades na matéria, mas não tem qualquer responsabilidade na situação específica de cegueira. Ora vejamos a situação. Se existe algum problema com um determinado fármaco esse lote tem de ser retirado do mercado e o laboratório é sempre responsabilizado por essa alteração, com as devidas consequências, agora ele não pode ser responsabilizado por uma situação que ocorreu no uso do produto numa patologia para o qual ele não estava indicado. É uma situação um pouco complexa, mas o laboratório suíço já se demarcou muito bem de eventuais responsabilidades.

A situação de falta de assépsia é sempre uma hipótese e podemos estar na presença de uma situação de quebra de esterilidade do material utilizado e aí a responsabilidade é sempre do Hospital de Santa Maria ou da empresa que estiver encarregue do serviço de esterilização, ou em último caso ainda não ouvi ninguém dizer que a culpa é dos enfermeiros que estavam a auxiliar o procedimento. Como o enfermeiro é sempre o elo mais fraco e mais desprotegido até estou admirado de ainda nenhum ter sido atirado para o centro do ringue. Estou a ironizar, mas com o decorrer das investigações ainda poderá acontecer alguma coisa.

Temos também a hipótese de ter havido um engano ao nível dos serviços farmacêuticos do Hospital e o produto que foi fornecido não ser o devido. É sempre uma hipótese a considerar ainda que remota, dada a pequena percentagem de erros desse género que acontecem todos aos anos em todo o mundo.

Espero que esta situação seja bem investigada e que os culpados sejam responsabilizados independentemente da sua profissão ou estatuto. Todos aqueles que agiram mal nesta situação devem ser responsabilizados e não se desculpem com sabotagens porque essa não pega. Quem é que iria querer sabotar o tratamento daqueles doentes? Porquê uma sabotagem em Portugal se outros países usam muito mais esse produto? Porque não sabotarem um país muito menos desenvolvido? Qual o interesse de uma sabotagem? São muitas as perguntas, mas se essa hipótese está a ser equacionada a investigação tem de ser muito profunda e levantar todas as pedras desmontando todos os interesses instalados, que são enormes e com um peso muito grandes. Vamos ver se as autoridades têm a força suficiente.

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