segunda-feira, 28 de abril de 2008

MAS AFINAL O QUE É ARTE?

A “Arte” é um conceito um pouco abstracto, já que depende do conceito que cada um de nós tem e do modo como cada um pensa e age. Para a grande maioria uma música é arte, uma pintura é arte, uma escultura é arte, entre muitas outras coisas, que estão convencionadas na nossa sociedade e que todos em geral temos como arte.

Mas ultimamente têm surgido algumas ideias e conceitos que desafiam aquilo que para mim é arte e que na minha opinião estão a entrar noutros campos que não arte. Um exemplo foi uma notícia que li que dava conta que um artista alemão estava à procura de uma pessoa, doente em fase terminal, que não se importasse de morrer perante o público numa galeria de arte. Isto é arte? Para mim é um atentado à dignidade humana. Está-se a querer brincar com algo importantíssimo como a vida humana.

Só quem já assistiu à morte de uma pessoa sabe o que isso é e asseguro-vos que não é nada agradável de se ver. Assistir aos últimos momentos de uma pessoa, ao seu definhar até que o coração deixa de bater e finalmente a vida se desvanece para dar lugar a um corpo frio, pálido e hirto. Isto não é nada bonito e falo assim porque infelizmente na profissão que exerço já assisti a várias mortes e quando digo várias falo em dezenas, pelo que me causa arrepios saber que alguém quer colocar uma pessoa a morrer numa galeria de arte, como se isso fosse arte.

Esse pressuposto artista nunca deve ter assistido ao sofrimento de um doente terminal, ao querer respirar e não poder, ao querer mover-se e não conseguir, ao querer alimentar-se e não ter o reflexo de deglutição presente, ao querer falar e as palavras não saírem. A morte é algo presente, não é um conceito abstracto, mas real e que deve ser encarado por todos como inevitável, mas será que se deve expor numa galeria? A vida humana deve estar acima de tudo, bem como a dignidade que deve acompanhar uma pessoa na hora da morte, no seu leito de morte.

Devemos reflectir acerca desta questão, dado que não podemos alhear-nos a esta barbaridade, que tem tanto de imoral como de cruel e que desrespeita tanto aqueles que infelizmente estão em fase terminal e vão morrer, como todos os outros que cuidam deles e que asseguram que a sua morte seja digna, que não querem estar presentes, mas que têm de estar porque são obrigados, porque é a sua profissão. E se para esses a morte é extremamente penosa, esses que teoricamente já estão habituados, então imaginem para um visitante de uma galeria. Não podemos banalizar a vida nem o conceito de arte, pois se isto é arte está tudo às avessas e qualquer dia assassinamos ou violamos em directo e ao vivo em galerias de arte.

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